CRÓNICA DE BENDIZER
Não é em vão que se tem um Amigo em Palmela. E as Festas das Vindimas são uma boa ocasião para o visitar. Diga-se, em abono da verdade, que a visita surgiu devido a circunstancialismos um pouco alheios a esta velha mas nunca esquecida amizade.
Deixando Lisboa pela Ponte Vasco da Gama, depressa se vê surgir, lá ao longe, o multissecular Castelo de Palmela em torno do qual se foi desenvolvendo a linda vila de Palmela (não sei por que não é uma cidade!). A ânsia de chegar é grande. É que hoje é dia de festa, de reencontro. Mais do que as Festas das Vindimas, há outras razões bem mais profundas e duradouras que nos apressam a chegada.
Eis que, de repente, surge a rotunda que nos serve de referência. – Onde é a Casa do Benfica? - perguntamos a um palmelense. A resposta é imediata e “os votos de um bom apetite” dão-nos logo a sensação de uma familiaridade e cumplicidade inesperadas. Lá chegámos à “Capela”. De facto a Casa do Benfica está instalada numa antiga capela. Os traços exteriores do edifício, o pequeno adro que o rodeia e a arquitectura interior confirmam isso. Mas não é para admirar que Palmela se contente apenas com uma “Capela” porque a chamada “Catedral”, essa fica em Lisboa, a Capital do País.
Já se estendem os braços para um abraço amigo e saudoso. O nosso anfitrião, AMS recebe-nos com um ar feliz e de satisfação. E nós não lhe ficamos atrás. Entramos sem presunção nem água benta na “Capela” e de imediato reconhecemos a esposa Lucinda, sempre sorridente e solícita que surge dos lados da “sacristia” (era dali que vinha o pão, o vinho e demais conduto). De facto não foi difícil reconhecê-la dado que os vídeos colocados no Fórum pelo comum amigo Anjes, não permitiam qualquer dúvida. Depois conhecemos a simpática filha. Parece até que já haveria um conhecimento antigo, talvez uma reminiscência de alguma outra reincarnação.
Mas a verdade é que naquela “Capela”, hoje “Casa do Benfica”, mais parecia estar-se numa reunião ecuménica porque ali, na Casa das Águias, conviviam Leões e Dragões e “malta” da nossa Briosa, numa franca e fraternal convivência em torno de uma saborosa e bem regada refeição. Para aperitivo foi oferecido um fresco e aromático Moscatel de Palmela, chamado vulgarmente Moscatel de Setúbal. Ali foram desfilando algumas das mais cintilantes estrelas do futebol português, desde o inesquecível Zé Augusto ao polémico Octávio Machado.
A tarde ainda tinha começado há pouco e muito mais nos esperava ao longo daquele dia quente dos princípios de Setembro. É que decorriam as Festas das Vindimas nesta simpática vila de Palmela. As apetitosas e sedutoras tendinhas, que se estendiam pelo largo e pelas ruas, acenavam-nos repetidamente. Era a Confraria Gastronómica de um lado, era a Dona Ermelinda lá do outro lado que nos convocavam e convidavam a uma tarde de degustação e de prazer inesquecível. Mas quem poderia responder de modo conveniente e satisfatório a tais solicitações depois de tal almoçarada na Casa do Benfica? O nosso anfitrião conhecido e reconhecido por todos e cada um dos proprietários das tendinhas, lá nos ia apresentando: desde o simpático casal da tenda da Confraria Gastronómica, até à neta da Dona Ermelinda, passando por aquele autêntica virago que comandava até alta madrugada a tenda das bifanas, petiscos e cervejas – esta era de facto uma verdadeira generala chupando o seu cigarro e dando ordens aos seus subalternos. O Sol apertava e o refrescante moscatel lá ia acalmando a sede.
A visita ao santuário privado não tardou. Aí nos aguardava a nossa anfitriã que se desdobrou em simpatia e arte de bem receber. O santuário estava todo engalanado com os troféus de várias vitórias conquistados nas cinco partes do Mundo e com a imagem da especial devoção do casal: Santo Ivo. A hora do lanche já se avizinhava e lá apareceu tudo o que de mais genuíno Palmela podia oferecer.
A tarde já ia avançada e urgia regressar à Capital. Entendeu o nosso anfitrião que não deveríamos vir de mãos a abanar e, por isso, fez-nos participantes do seu vasto espólio de troféus e de uma recordação dos vinhos de Palmela.
É com satisfação e saudade que aqui deixo esta “Crónica de Bendizer”, na esperança de um dia, tão breve quanto possível, poder retribuir a amizade e o carinho com que fomos tratados. Repito. “fomos tratados” e esclareço que não se trata do uso do plural majestático. O nosso muito obrigado.
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